“Não compare pequenas marcas autorais com marcas gigantes de alcance global”

RELab Criativo
4 min readJul 10, 2021
Imagem de peças de xadrez sobre espelho: com um pião e a imagem refletida de um Rei. Créditos: Ravi Kumar

Aprofundando-se as razões pelas quais grandes empresas e a utilização de plástico são um dos maiores embates para a libertação do homem das garras do homem. Tem-se o surgimento das fibras plásticas nas décadas de 1920 e 1930, já num sistema fordista de produção durante um modelo Liberal Econômico.

Foi durante o Fordismo que fábricas quilométricas surgiram, junto a milhares de trabalhadores vivendo em péssimas condições em áreas periféricas à região de trabalho e estoques muito além do necessário foram produzidos. Dentre os materiais fabricados de forma massificada, se encontram fibras como poliéster, poliamida, nylon e poliacrílico. Fibras com origem no petróleo e do carvão mineral. Esse sistema propiciou uma das maiores crises econômicas do mundo, a Crise de 1929.

Vale ressaltar o ciclo de crises do Capitalismo, infelizmente é algo comum: 1929 (superprodução), 1935 (guerra econômica), 1973 (petróleo), 1974 (petróleo), 2008 (imobiliário/financeiro), 2020 (vírus e globalização).

Nesse modelo surgiu, também, a Obsolescência Programada desses insumos. Essa facilidade com a qual os produtos que compramos tem para quebrar não é coincidência, eles são feitos para isso, assim temos que adquirir mais do imenso estoque produzido. Essas grandes marcas não diminuem a produção para um nível sustentável ao planeta, mas sim geram mais lixo desnecessário e manipulam o público para que o consumo ocorra com maior frequência. Gerando mais embalagens e materiais de plástico; necessitando de mais transporte, liberando petróleo e poluentes atmosféricos. Tudo em nome do lucro.

Imagem de peças de xadrez: todas as peças consideradas menos importantes ao jogo, unidas num círculo, com o Rei ao centro caído. Créditos: Felix Mittermeier

Cabe questionar para que serve o plástico nessas grandes indústrias: baratear custos, permitindo maiores lucros (pelo menos enquanto tiver ouro negro sob nossos pés). Se a produção está mais barata, os produtos também estão? Pelo contrário. E os trabalhadores, começaram a receber melhores salários? Em sua maioria não. E assim surgem os bilionários.

Tudo que fora contextualizado anteriormente engloba o Liberalismo Econômico (década de 1920 e 1930 com suas crises) e o Neoliberalismo Econômico (século XXI e suas crises), que se baseia no mesmo sistema, mas aos moldes contemporâneos (neo = novo).

Surge um pouco antes desse período (nas Revoluções Industriais) a Mais-Valia, que influencia precisamente no salário dos trabalhadores. A maior parte do lucro das grandes empresas, advém da mão de obra: da retirada do merecido capital de quem produziu o lucro desse bilionário. Mas raramente vemos dessa forma a captação de lucros, devido à presença do Mito do Bom Bilionário: que passa a encobrir suas devastações ambientais e sociais por meio de doações e ajudas. São válidas? Claro. Mas não solucionam as desigualdades econômicas geradas por essas indústrias, que periferizam corpos negros, indígenas, femininos, LGBTQIA+. E os colocam em riscos de saúde ao expô-los ao lixo plástico gerado e descartado incorretamente.

Vale ressaltar: mais bilionários (surgimento possibilitado pelo Neoliberalismo) é ruim para o capitalismo em si. Pois assim há menor circulação de moeda, que passa a ficar armazenada em poucas contas bancárias e não serão gastas suficientemente nas próximas gerações dessa família.

Mas do outro lado, temos as empresas de valor regional. As quais priorizam modelos como: a circularidade da Moda/up cycling; brechós; reciclagem ou a ausência de produção de lixo, como o Zero Waste. Sem falar do resgate cultural.

Essas produções em pequena escala, de acordo com o consumo, sem gerar estoques desnecessários. Costumam priorizar matérias-primas naturais (como o algodão ou o linho) e artificiais (como a viscose) em suas roupas, e materiais recicláveis em suas embalagens.

Um valor justo é empregado na cadeia produtiva, então seu custo final não é “caro” em comparação à fast fashion, mas sim o correto.

Nem todas as pequenas marcas trabalham com fibras naturais orgânicas ou uma mão de obra ética. E aí entra a oportunidade e o acesso. Sabemos que no Brasil a certificação orgânica é propositalmente cara, é difícil encontrar produções têxteis orgânicas de forma acessível. Sem falar do acobertamento dos fornecedores quanto ao histórico de sua produção (de fios, tecido, linha, aviamentos etc), tornando um desafio ao vendedor final esclarecer a moralidade de suas peças à venda.

Nesse contexto cabe a consciência de que nem todos têm acesso à informação de forma homogênea. Mas cabe observar em como as grandes produções, citadas anteriormente, podem investir num modelo justo com maior facilidade, mas não o faz por interesses econômicos. E se pequenas empresas ainda não fizeram essas mudanças é porque não houve acesso a ela, afinal, produções menores são também afetadas pela discrepância socioeconômica do mercado.

A libertação do homem pelo homem, citada anteriormente, apenas ocorrerá a partir do acesso e da consciência. Sem eles estamos fadados a um ciclo de crises e lixo. A mudança é viável em contextos de equidade de oportunidades, colocando-se o humano acima do capital.

Texto: Guilherme Sanches

#ParaTodosVerem: A primeira imagem é de peças de xadrez sobre espelho: um pião vê refletida a imagem de um Rei, como se ambos tivessem a mesma influência, mas os impactos devem ser medidos. A comparação não é válida. E segunda imagem é de peças de xadrez: todas as peças consideradas menos importantes ao jogo, unidas num círculo, com o Rei ao centro caído. A união de diversas influências menores derrubou o pódio dos grandes, que separados não tinham tanta força.

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