Plástico e Meritocracia

RELab Criativo
4 min readAug 16, 2021
Uma pessoa em pé em cima de um muro, coberta por um plástico. Créditos: Karina Tes

O ideal meritocrático, além de bastante sedutor, cria essa cultura de vencedores e perdedores, dizendo ser de responsabilidade autoral tais postos. Essa mentira encenada pela vivência das classes média e alta num modelo neoliberal de mercado busca afetar classes consideradas economicamente inferiores à sua. Consequências estas, que afetam a integridade física e psicológica de quem as sofre.

A presença cada vez maior de materiais descartáveis, como se algo devesse o ser, é preocupante. O lixo é uma desastrosa invenção humana, na natureza não há lixo, nela tudo se transforma e é aproveitado. Era um ciclo auto sustentável e harmonioso, até que os limites antropocêntricos foram ultrapassados.

Roupas de matéria-prima plástica estão sendo consideradas tão descartáveis quanto as máscaras de Tecido Não Tecido (TNT). Esse tsunami de Lixo Não Lixo criado pelo consumo e descarte desnecessários de peças novas está devastando as praias do mundo. Nesse contexto vale questionar, a culpa é de toda humanidade? E, respondendo com outra pergunta: toda humanidade é dona de grandes indústrias poluidoras, ou a maioria não tem escolhas senão usar o que tem à disposição? Temos como resposta um “não”.

É comum nos depararmos com falas como: “nós estamos cada vez mais dependentes do plástico” e, contrastando, “não precisamos do plástico, é só querer que você não usa mais”. Para argumentação, vale organizar esse texto em três momentos: Se somos realmente dependentes do plástico; se não precisamos do plástico, então por que ele está tão presente em nosso cotidiano? E, por fim, a viabilidade de mudança desse consumo tendo em vista as diferenças socioeconômicas.

Uma planta coberta por um plástico. Créditos: Nazli Mozaffari | Um vaso com planta e uma mão dentro de um saco plástico. Créditos: Aldo Delara

Será que estamos cada vez mais dependentes do plástico? Apesar de pesquisas para criação de matérias plásticas desde a segunda metade do século XIX, sua produção industrial perpassa os anos 1920, e no caso das indústrias têxteis, os anos 1930, assunto mais bem desenvolvido no texto “não compare grandes marcas de alcance global com pequenas marcas de alcance regional” publicado pelo RELab Criativo no mês de Julho. A nossa dependência plástica é uma ilusão, basta comparar nosso tempo de existência e o curto período no qual o plástico fez parte de nossas vidas.

Para compreendermos o porquê de o plástico estar tão presente em nosso cotidiano, precisamos de mais uma pergunta: qual a funcionalidade do plástico para a indústria e para a sociedade? Para as fábricas, o plástico barateia custos em matéria-prima e tempo de produção, o qual se converte em lucros para seus donos. Já a sociedade utiliza o plástico como única alternativa por influência das indústrias, de forma a trazer praticidade no dia a dia. Mas é uma situação bem duvidosa crer que o plástico seria a única alternativa, quando na verdade já existem outras e pesquisas buscam desenvolver muito mais possibilidade ao nosso viver.

Duas maçãs, uma verde outra vermelha, presas dentro de um sacola plástica. Créditos: Sophia Marston

Mas e na mudança? Podemos mesmo nunca mais utilizar coisas a base de plástico, basta querer? Por mais que não estejamos cada vez mais dependentes do plástico, somos cada vez mais entupidos de produtos de sua origem. No momento, as possibilidades de transição são baixas porque as ferramentas de luta disponibilizadas para o povo são mínimas. Tornar caros produtos orgânicos e ecológicos é uma estratégia do mercado para torná-los inacessíveis ao público. Empresas sustentáveis apresentam remunerações justas e um fluxo de taxas muito maior, enquanto as mais poluentes recebem isenção dessas mesmas taxas. A ideia de que a destruição é mais barata do que a conservação é uma ilusão neoliberal, é um teatro muito bem articulado objetivando vendar a Consciência Popular e evitar mudanças drásticas do modelo no qual vivemos, criado pelos ricos e para os ricos.

Assim como ao compararmos a viabilidade de mudança entre grandes e pequenas marcas não podemos exigi-la de forma homogênea das duas. O mesmo ocorre no privado, cada indivíduo vive uma realidade responsável por mediar suas atitudes. Quem não tem outra oportunidade de escolha, dificilmente será o grande causador do problema, já que é afetado por isso. Mas quem pode e consegue mudar, deve ter consciência de sua posição no espaço. Mudanças, transformações e mutações são invariáveis de nossa espécie. Precisamos conscientizar quem pode mudar com o propósito de lutar por aqueles inviabilizados de resistir.

Sempre se pergunte: quem produz a maior quantidade de lixo plástico? E quem é mais afetado por essa produção?

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